quarta-feira, 13 de junho de 2012

Marcha do Parto em Casa

Nos dias 16 e 17 de junho, mulheres ocuparão as ruas de várias cidades brasileiras em defesa dos seus direitos sexuais e reprodutivos, entre eles a escolha pelo local de parto. 

No último domingo, dia 10 de junho, o Fantástico veiculou matéria sobre o parto domiciliar, o que causou bastante repercussão. O médico-obstetra e professor da UNIFESP, Jorge Kuhn, foi entrevistado e defendeu o domicílio como um local seguro para o nascimento de bebês de mulheres saudáveis com gravidezes de
baixo risco, segundo preconiza a própria Organização Mundial de Saúde.

No dia 11/06, dia seguinte à matéria, o CREMERJ publicou nota divulgando que fará denúncia ao CREMESP para punir o médico-obstetra Jorge Kuhn por ter se posicionado favorável ao parto domiciliar nas condições acima detalhadas.

O estudo mais recente publicado no British Journal of Obstetrics and Gynecology (2009) analisou a morbimortalidade perinatal em uma impressionante coorte de 529.688 partos domiciliares ou hospitalares planejados em gestantes de baixo-risco: Perinatal mortality and morbidity in a nationwide cohort of 529,688 low-risk planned home and hospital births. [http://www3.interscience.wiley.com/journal/122323202/abstract?CRETRY=1&SRETRY=0]. Nesse estudo, mais de 300.000 mulheres planejaram dar à luz em casa enquanto pouco mais de 160.000 tinham a intenção de dar à luz em hospital. Não houve diferenças significativas entre partos domiciliares e hospitalares planejados em relação ao risco de morte intraparto (0,69% VS. 1,37%), morte neonatal precoce (0,78% vs. 1,27% e admissão em unidade de cuidados intensivos (0,86% VS. 1,16%). O estudo concluiu que um parto domiciliar planejado não aumenta os riscos de mortalidade perinatal e morbidade perinatal grave entre mulheres de baixo-risco, desde que o sistema de saúde facilite esta opção através da disponibilidade de parteiras treinadas e um bom sistema de referência e transporte.

Em repúdio à decisão arbitrária dos Conselhos de Medicina em punir profissionais que compreendem como sendo da mulher a decisão sobre o local do parto foi idealizada a MARCHA DO PARTO EM CASA. Entre as reivindicações, além da defesa pelo direito à liberdade de escolha, pela humanização do parto e nascimento e pela melhoria das condições da assistência obstétrica e neonatal no país, também está a denúncia às altas taxas de cesarianas que posicionam o Brasil entre os primeiros colocados do ranking mundial.

MARCHA DO PARTO EM CASA

Rio de Janeiro - RJ
Local: Praia de Botafogo, altura do IBOL - Passeata até o CREMERJ (Rua Farani)
Data: 17 de Junho, domingo
Horário: 10h da manhã
Contatos: Ingrid Lotfi (21) 9418-7500

São Paulo - SP
Local: Parque Mário Covas (atrás do Trianon) - Passeata até o CREMESP
Data: 17 de Junho, domingo
Horário: 14h da tarde
Contatos: Ana Cristina Duarte (11) 9806-7090

São José dos Campos - SP
Local: Praça Affonso Pena perto dos brinquedos
Data: 16 de junho, sábado
Horário: 10h da manhã
Contato: Flavia Penido (12) 91249820

Campinas - SP
Local: Praça do Côco /Barão geraldo
Data 17 de junho, domingo
Horário: 14h da tarde
Contato: Ana Paula (19) 97300155

Ribeirão Preto - SP
Local: Esplanada do Teatro Pedro II
Data: 16 de junho, sábado
Horário: 14h da tarde
Contato: Marina B Fernandes (16) 9963-9614

Sorocaba - SP
Local: Parque Campolim
Data 17 de junho, domingo
HOrário: 10h da manhã
Contato: Gisele Leal (15) 8115-9765

Ilhabela - SP
Local: Praça da Mangueira
Data: 17 de junho, domingo
Horário: 11h da manhã
Contato: Isabella Rusconi (12) 96317701 / Alejandra Soto Payva (12) 91498405

Vitória - ES
Local: Praia de Camburi - Ponto de encontro em frente ao Banco do Brasil
Data: 17 de Junho, domingo
Horário: 9h da manhã
Contatos: Graziele Rodrigues Duda 8808-8184

Brasília - DF
Local: próximo ao quiosque do atleta, no Parque da Cidade - Passeata até o eixão
Data: 17 de Junho, domingo
Horário: 09h30h da manhã
Contatos: Clarissa Kahn (61) 8139-0099 e Deborah Trevisan (61) 8217-6090

Belo Horizonte - MG
Local: Concentração na Igrejinha da Lagoa da Pampulha
Data: 16 de junho, sábado
Horário: 12h30 da tarde
Contato: Polly (31) 9312-7399 e Kalu (31) 8749-2500

Recife - PE
Local: Conselheiro Portela, 203 - Espinheiro - Em frente ao CREMEPE
Data: 17 de junho, domingo
Horário: 15h da tarde
Contatos: Paty Brandão (81) 8838 5354 \ 9664 7831, Patricia Sampaio Carvalho

Fortaleza - CE
Local: Aterro da Praia de Iracema
Data: 17 de junho, domingo
Horário: 17h da tarde
Contato: Semírades Ávila

Salvador - BA
Local: Cristo da Barra até o Farol
Data: 17 de junho, domingo
Horário: 11hrs da manhã
Contato: Daniela Leal (71) 9205-9458, Anne Sobotta (71) 8231-4135 e Chenia d'Anunciação (71) 8814-3903 / 9977-4066

Curitiba - PR
LOcal: Rua Luiz Xavier - Centro - Boca Maldita
Data: 16 de junho, sábado
Horário: 11 hrs da manhã
Contatos: Inês Baylão (41) 9102-7587

Florianópolis - SC
Local: Lagoa da Conceição - concentração na praça da Lagoa, onde acontece a feira de artesanatos
Data: 17 de Junho, domingo
Horário: 15h
Contatos: Ligia Moreiras Sena (48) 9162-4514 e Raphaela Rezende (raphaela.rnogueira@gmail.com)

Porto Alegre - RS
Local: Parque Farroupilha (Redenção), Concentração no Monumento ao Expedicionário
Data: 17 de junho, domingo
Horário: 15:00hrs
Contatos: Maria José Goulart (51) 9123-6136 / (51) 3013-1344

APOIO:
PARTO DO PRINCÍPIO - MULHERES EM REDE PELA MATERNIDADE ATIVA

Aqui a matéria sobre a retaliação do CREMERJ:
http://www.jb.com.br/rio/noticias/2012/06/11/cremerj-abrira-denuncia-contra-medico-que-defende-parto-domiciliar/

Aqui está a matéria veiculada no Fantástico:
http://globotv.globo.com/rede-globo/fantastico/t/edicoes/v/parto-humanizado-domiciliar-causa-polemica-entre-profissionais-da-area-de-saude/1986583/

Em defesa das mulheres que escolhem o parto domiciliar, em repúdio ao Cremerj


Em defesa das mulheres que escolhem o parto domiciliar, em repúdio ao Cremerj

Nossa militância não defende que todas as mulheres devem ser obrigadas a ter parto normal – apesar de ser estatisticamente mais seguro para mulheres e bebês. Acreditamos que as mulheres devem ter acesso a informações sobre partos a partir de fontes seguras, informações baseadas em evidências e em literatura médica atualizada. Assim, cada mulher – em conjunto com a equipe de assistência em saúde - pode escolher a forma adequada de parir seu bebê, de acordo com suas condições fisiológicas, emocionais, familiares, etc.
Ao invés de convencer todas as mulheres a passar por um parto normal, queremos que o sistema de saúde do Brasil mude a assistência ao parto normal, que atualmente é extremamente violento para as mulheres. A forma como o parto é conduzido nos hospitais do Brasil é focada no que é mais fácil e rápido para a equipe de saúde, e não nas especificidades e necessidades físicas e emocionais de cada mulher, bebê e famílias.
Nós mulheres queremos partos sem ocitocina de rotina (hormônio aplicado com o “sorinho”, e que serve acelerar o trabalho de parto, aumentando a intensidade das contrações e, por consequência, aumentando as dores).
Nós mulheres queremos partos sem episiotomia em nossas vaginas (o corte feito no períneo para acelerar a passagem do bebê pode ser necessário em menos de 20% dos partos, mas os médicos brasileiros fazem este corte em 80% das mulheres em parto normal).
As mulheres brasileiras querem partos sem manobra de Kristeller (apertar a barriga da mulher para baixo), procedimento condenado pela literatura médica desde a década de 1980, mas que continua sendo aplicado nos hospitais brasileiros.
Queremos poder escolher posturas mais confortáveis para parir que não a litotomia (estar deitada na cama força mais o músculo do períneo). Queremos poder nos alimentar e beber durante o trabalho de parto – o que a rotina médica costuma impedir durante o trabalho de parto que pode durar mais de 10 horas. Além destas, há muitas outras intervenções desnecessárias e realizadas como rotina na assistência ao parto.
Sonhamos e lutamos por um sistema de saúde onde o parto normal seja realizado de forma humanizada – ou seja, que cada parto seja feito de acordo com o corpo de cada mulher. Infelizmente o panorama do sistema obstétrico do país vem caminhando no sentido da “industrialização” dos partos: todos seguem uma rotina médica que não respeita a fisiologia de cada corpo humano.
Se a classe médica se preocupa com a saúde e integridade do corpo das mulheres e dos bebês, deveria se preocupar em promover atualização dos obstetras brasileiros, e denunciar os profissionais que não praticam as normas da Organização Mundial da Saúde para a assistência ao parto.
Deveria, inclusive, denunciar os profissionais que praticam cesáreas agendadas por conveniência, expondo mulheres e bebês a riscos desnecessários, e sem que a gestante e seus familiares tenham sequer conhecimento de que esta é uma cirurgia considerada de grande porte.
Ao invés disso, o Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (Cremerj) planeja uma denúncia contra o médico Jorge Francisco Kuhn, por este ter se manifestado em defesa do parto domiciliar em programa de TV em rede nacional.
Repudiamos essa atitude do Cremerj, que vem sistematicamente tentando intimidar os profissionais que caminham na direção das necessidades que nós, mulheres, apresentamos.
A classe médica deve lembrar que somos donas de nossos úteros, de nossos corpos. E por isso temos o direito de escolher a melhor forma de parir nossos filhos.
Além de úteros, temos cérebro. Somos providas de capacidade cognitiva para estudar, pesquisar e conhecer o processo do parto a partir de pesquisas científicas, de evidências médicas. Também conhecemos o parto a partir da experiência pessoal que somente nós, mulheres, podemos ter. Ou seja, ao contrário do que julgam os detentores do saber médico, somos capazes de tomar decisões com base em conhecimento, e quando uma mulher escolhe o parto domiciliar não está fazendo por “capricho”, mas por ter esta necessidade emocional, por ter conhecimento suficiente para esta escolha, por ter confiança no seu corpo e nas pessoas que vão lhe assistir neste momento.
Ressaltamos que não queremos que todas as mulheres sejam obrigadas a ter parto normal, seja nos hospitais, nas casas de parto, ou em casa. Mas, exigimos que a sociedade brasileira e a classe médica respeitem a vontade e a capacidade de discernimento das mulheres que escolhem o parto domiciliar. E que essas mulheres tenham o direito de contar com uma equipe de profissionais capacitados para oferecer assistência adequada.
Por tudo isso, nós, mulheres brasileiras militantes do parto humanizado, viemos a público manifestar repúdio contra o Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (Cremerj).

terça-feira, 12 de junho de 2012

Em defesa do direito a escolha


CARTA ABERTA À SOCIEDADE

Nós, médicos humanistas, enfermeiras-obstetras e obstetrizes, todos os profissionais, entidades civis, movimentos sociais e usuárias envolvidos com a Humanização da Assistência ao Parto e Nascimento no Brasil, vimos através desta presente Carta manifestar o nosso repúdio à arbitrária decisão do Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro (CREMERJ) de encaminhar denúncia contra o médico e professor da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) Jorge Kuhn, por ter se pronunciado favoravelmente em relação ao parto domiciliar em recente reportagem divulgada pelo Programa Fantástico, da TV Globo.

Acreditamos estar vivenciando um momento em que nós todos, que atendemos partos dentro de um paradigma centrado na pessoa e com embasamento científico, estamos provocando a reação violenta dos setores mais conservadores da Medicina. Pior: uma parcela da corporação médica está mostrando sua face mais autoritária e violenta, ao atacar um dos direitos mais fundamentais do cidadão: o direito de livre expressão. Nem nos momentos mais sombrios da ditadura militar tivemos exemplos tão claros do cerceamento à liberdade como nesse episódio. Médicos (como no recente caso no Espírito Santo) podem ir aos jornais bradar abertamente sua escolha pela cesariana, cirurgia da qual nos envergonhamos de ser os campeões mundiais e que comprovadamente produz malefícios para o binômio mãebebê em curto, médio e longo prazo. No entanto, não há nenhuma palavra de censura contra médicos que ESCOLHEM colocar suas pacientes em risco deliberado através de uma grande cirurgia desprovida de justificativas clínicas. Bastou, porém, que um médico de reconhecida qualidade profissional se manifestasse sobre um procedimento que a Medicina Baseada em Evidências COMPROVA ser seguro para que o lado mais sombrio da corporação médica se evidenciasse.

Não é possível admitir o arbítrio e calar-se diante de tamanha ofensa ao direito individual. Não é admissível que uma corporação persiga profissionais por se manifestarem abertamente sobre um procedimento que é realizado no mundo inteiro e com resultados excelentes. A sociedade civil precisa reagir contra os interesses obscuros que motivam tais iniciativas. Calar a boca das mulheres, impedindo que elas escolham o lugar onde terão seus filhos é uma atitude inaceitável e fere os princípios básicos de autonomia.

Neste momento em que o Brasil ultrapassa inaceitáveis 50% de cesarianas, sendo mais de 80% no setor privado, em que a violência institucional leva à agressão de mais de 25% das mulheres durante o parto, em vez de se posicionar veementemente contrários a essas taxas absurdas, conselhos e sociedades continuam fingindo que as ignoram, ou pior, as acobertam e defendem esse modelo violento e autoritário que resulta no chamado "Paradoxo Perinatal Brasileiro". O uso abusivo da tecnologia contrasta com taxas gritantemente elevadas de mortalidade materna e perinatal, isso em um País onde 98% dos partos são hospitalares!

Escolher o local de parto é um DIREITO humano reprodutivo e sexual, defendido pelas grandes democracias do planeta. Agredir os médicos que se posicionam a favor da liberdade de escolha é violar os mais sagrados preceitos do estado de direito e da democracia. Ao invés de atacar e agredir, os conselhos de medicina deveriam estar ao lado dos profissionais que defendem essa liberdade, vez que é função da boa Medicina o estímulo a uma "saúde social", onde a democracia e a liberdade sejam os únicos padrões aceitáveis de bem estar.

Não podemos nos omitir e nos tornar cúmplices dessa situação. É hora de rever conceitos, de reagir contra o cerceamento e a perseguição que vêm sofrendo os profissionais humanistas. Se o CREMERJ insiste em manter essa postura autoritária e persecutória, esperamos que pelo menos o Conselho Regional de Medicina de São Paulo (CREMESP) possa responder com dignidade, resgatando sua função maior, que é o compromisso com a saúde da população.

Não admitimos, não permitiremos que o nosso colega Jorge Kuhn seja constrangido, ameaçado ou punido. Ao mesmo tempo em que redigimos esta Carta aberta, aproveitamos para encaminhar ao CREMERJ, ao CREMESP e ao Conselho Federal de Medicina (CFM) nossa Petição Pública em prol de um debate cientificamente fundamentado sobre o local do parto. Esse manifesto, assinado por milhares de pessoas, dentre os quais médicos e professores de renome nacional e internacional, deve ser levado ao conhecimento dos senhores Conselheiros e da sociedade. Todos têm o direito de conhecer quais evidências apoiariam as escolhas do parto domiciliar ou as afirmações de que esse é arriscado – se é que as há.

http://www.peticaopublica.com.br/PeticaoVer.aspx?pi=petparto

(Por Melania Amorim)

sábado, 12 de maio de 2012

Sobre as Doulas

Você sabe o que é uma doula?

Doula é a mulher que serve a mulher.
A presença de uma doula durante o trabalho de parto é muito importante para a parturiente.
A mulher em TP costuma perder a noção, entra dentro de si mesma... O marido/companheiro, geralmente, não está acostumado a lidar com uma mulher em TP e pode se assustar, perder o controle da situação.
As doulas estão acostumadas a lidar com mulheres em TP, estudam pra isso, são mulheres que se informam muito e ajudam a mulher a lidar com as emoções que surgem durante o trabalho de parto.
As doulas trabalham com massagens e muitos outros métodos naturais do alívio da dor para apoiar a mulher durante a progressão do TP.
Uma doula não faz exame de toque, não auscuta bebê... doula não deve fazer papel de parteira, nem de enfermeira... a doula é a doula: a mulher que está ali pra segurar na nossa mão, dizer o quanto somos fortes e capazes de colocar o nosso filho do mundo.

Num momento de fragilidade emocional extrema, doula é essencial! :-)

Doulas são tudo de bom! :-)

segunda-feira, 30 de abril de 2012

Reflexões sobre o meu trabalho de parto


Depois de muito pensar e pensar, depois de escrever um relato e reler 15mil vezes pra realmente encontrar os pontos sobre os quais eu precisava refletir, eu queria dividir com vcs um pouquinho da minha experiência e ouvir os comentários de vcs... quem sabe assim não consigo ir caçando mais monstros aqui dentro...
Eu era daquelas que achava ótimo e super prático marcar o dia do "parto", fazer mão, escova, e chegar linda e loira na maternidade pra ter um filho... quanta ignorância...
Um belo dia, quase 1 ano antes de engravidar, eu caí no Blog Mamíferas. E devorei o blog. Li tudo. Pensei bastante. E vi o quanto eu estava errada e o quanto eu aida não estava preparada pra ter um filho. O quanto eu pensava só em mim, no meu conforto e nos meus medos e não estava preparada para sair da minha zona de conforto pra proporcionar uma chegada respeitável para a minha filha, no tempo dela, sem colírios agressivos, sem esfrega esfrega pra tirar o vernix, sem banho na primeira hora, sem horas no berçário...
Passei quase um ano lendo sobre parto humanizado e relatos de parto. Um dia, cai no relato da Anne Pires, e ali eu cheguei no nome da Mari. Guardei o nome dela e decidi que seria com ela que eu faria o meu pré-natal (por coincidência, eu até já tinha trocado alguns emails com a Mariana pois nos casamos quase na mesma época e ela tb participava de uma comunidade de noivas no orkut da qual eu participava tb).
Quando me descobri grávida, eu já tinha uma boa noção de como era difícil conseguir um parto normal em Campinas, sabia que Mariana seria mesmo a minha única escolha e liguei numa médica do convênio mesmo só pra ir lá pegar a guia pra fazer os exames de sangue. Escolhi ir lá pq eu tb estava muito assustada, curiosa e queria fazer logo um ultrassom pra ouvir o coraçãozinho batendo e ficar tranquila. Hoje eu até questiono um pouco essa minha atitude, mas acho que naquele momento, foi necessário para que eu pudesse dormir em paz, sem neuras. Como engravidei no primeiro mês de tentativas, eu ficava com medo de ainda ter hormônio da pílula no meu corpo e que isso prejudicasse alguma coisa, ai, sei lá, pensava tanta coisa sem noção....  

Enfim, levei o meu marido junto pra ele entender o que era um atendimento de uma médica de convênio. Cheguei lá, tava cheio de gente na sala, não tinha lugar pra sentar, ela me atendeu em 10 minutos, mal olhou no meu olho, me tratou como se eu fosse só "mais uma grávida". Isso me ajudou muito a fazer com que ele entendesse que, mesmo tendo convênio, não era hora de usá-lo.
Quando fomos na primeira consulta, entendemos que era com a Mari mesmo que tínhamos que ficar. Ela entendeu bem a minha personalidade e sabia lidar com a minha ansiedade e a minha curiosidade. Me deu uma lista enorme de sites sobre parto, sobre Medicina Baseada em Evidências, me incentivava a pesquisar e a discutir as minhas dúvidas com ela, a descobrir os meus medos e trabalhar nas consultas como poderíamos trabalhar para driblá-los.
A gravidez correu super bem, frequentamos bastante as reuniões do Samaúma.
Algumas vezes me peguei pensando sobre parto domiciliar, mas pra mim, acabava ficando fora de questão, porque quando minha filha nascesse eu já estaria morando em Nova Odessa, bem longe de qualquer hospital "decente" caso precisássemos de remoção ou tivéssemos alguma emergência. Além disso, eu, como filha única, sempre dependi muito da aprovação dos meus pais... Sempre fiz tudo na minha vida pensando em deixá-los orgulhosos. E se pra minha mãe, já era uma loucura tremenda e absurda eu ter um parto normal, pq ela acha que é muito perigoso, o que diria ela se eu tivesse um filho em casa? E qual seria o tamanho da minha culpa caso eu tentasse ter um filho em casa e precisasse ir pro hospital?
Não... eu não estava pronta pra um PD ainda. De jeito nenhum. Ainda era muito filha e pouco mãe. E estar em Nova Odessa era a desculpa perfeita isso. Hoje eu sei que eu sentia medo, eu não bancava emocionalmente um PD ainda (independente de ter ou não aprovação de alguém) e estar morando longe foi a muleta perfeita para que eu não me preocupasse em sair dessa zona de conforto.
Eu estava adorando estar grávida. Curtia cada chute, cada sensação nova. E hoje eu vejo o quanto eu estava completamente apegada à minha barriga. Eu achava que estava tranquila, que estava tudo bem, que eu estava pronta para receber a minha filha... fiz cartinha pra ela, fiz ritual de despedida da barriga, fiz tudo e mais um pouco q a Mari me recomendou (apesar de saber que o trabalho de parto só começa qdo o bebê solta um surfactante no líquido amniótico mostrando que o pulmão está pronto). Mas hoje, pela saudade que eu sinto da minha barriga e de ter ela se mexendo aqui dentro, eu vejo que a tranquilidade era só "discurso". Eu acho que no fundo, eu tinha medo que ela nascesse. Pois eu sabia que o mundo ia virar de cabeça pra baixo (e realmente virou... acabaram-se os restaurantes, os cinemas, os sábados na tv até de madrugada... tudo mudou drasticamente).
Com 41 semanas e 4 dias conversei com a Mariana. Ela sairia de férias dali a 3 dias e eu não queria arriscar, de jeito nenhum, ter um parto com plantonista. Eu sabia que não seria um parto legal e sabia dos riscos que eu correria de ir pra uma cesárea desnecessária. Assumi os riscos e pedi pra Mariana induzir o meu parto. Preferia correr o risco de uma indução mal sucedida e uma cesárea respeitosa com ela, do que uma cesárea mal indicada por plantonista. Ela disse que no dia seguinte iria mesmo me sugerir a indução caso a Ana não nascesse, e que se aquela era a minha escolha, naquele momento ela não via problemas em induzirmos. Disse que me internaria a noite e pediu pra gente bater um papo com a Lara, a nossa doula e psicóloga, pois talvez a Lara conseguisse nos ajudar a desatar alguns nós que pudessem estar impedindo o trabalho de parto.
As 19h30 a Mari colocou o primeiro comprimido de indução e me avisou que o colo não estava muito favorável ainda, que talvez demorasse ainda mais ou menos umas 36 horas pra Ana nascer.
A Lara, grávida, foi ao Vera Cruz, embaixo de chuva pra conversar com a gente. Chegou lá umas 9 da noite. E acho que foi uma conversa muito boa. Eu me senti apoiada e amparada. O Gabriel tb falou sobre alguns medos. Eu tb achei alguns outros medos do pós-parto, da responsabilidade que a bebê traria... Enquanto a gente conversava, eu sentia a barriga contrair algumas vezes. Ela já estava contraindo desde a tarde, mas tudo bem fraquinho, nada com mta dor, tudo bem tranquilo, sem dor e apenas uma leve cólica.
Um pouco depois da meia noite, o plantonista foi me examinar e colocar o segundo comprimido. Quando ele me examinou, disse que ainda parecia estar tudo do mesmo jeito, estava com o mesmo 1cm de dilatação de antes e ele tb disse que a minha filha ia nascer só na quinta-feira (isso era na noite de terça para quarta).
Eu tinha que ficar uma hora deitada com o comprimido.  Não aguentei. Uns 45 minutos depois, levantei pra fazer xixi. Escovei os dentes. O Gabriel já estava dormindo. Desliguei a TV. Deitei. E PLOC. Senti uma contração muito forte e um ploc por dentro. O Gabriel acordou com o AI que eu gritei. No primeiro momento, eu achei que Ana tivesse se assustado com a contração e tivesse dado um chute mais forte. Aí senti um molhadinho. Mais um molhadinho. E CHUÁÀÁÁ... Lavei o lençol... A bolsa rompeu.
O Gabriel chamou a enfermeira e eu fui pro chuveiro.
As contrações começaram a vir, mas eu estava bem consciente... Acho que vinham a cada 5 minutos mais ou menos. Eram meio fracas. O Gabriel ficou comigo dentro do banheiro, sentado no vaso, conversando, me observando e as contrações começaram a ficar mais doloridas. Isso era mais ou menos 1h30 da manhã.
às 3h, o Gabriel já não dava mais conta de mim sozinho. Começou a ficar nervoso e ligou pra Dorothe,qdo ele disse q as contrações estavam de 5 em 5, ela pediu pra ele monitorar por meia hora e ligar de novo. Meia hora depois, ele ligou pra ela, e ela foi pro hospital.
Eu comecei a sentir muita dor e não sabia lidar direito com ela. Eu sempre soube que ia doer. Mas eu não imaginava que fosse tão forte assim já logo no começo. Eu gritei algumas vezes, e ai me lembrei da Lara falando uma vez que em trabalho de parto, temos que tomar cuidado para não gritar de desespero. Que sentir a dor e expressar essa dor é normal, mas a exprtessão de desespero é diferente. Entre uma contração e outra, eu consegui analisar e percebi que meus gritos eram de desespero. Eu estava perdendo o foco. E me lembrei de alguns relatos que eu tinha lido, em que as mulheres diziam que qdo elas fazim um barulho tipo grunhido/gemido, era mais fácil lidar com a dor. E eu comecei a procurar esse som dentro de mim. Achei.
Ficou mais fácil passar pelas contrações. Depois eu pesquisei e vi que essa vibração da garganta ajuda a relaxar tudo por dentro, inclusive o colo do útero, ficando mais fácil para ele dilatar.
O problema foi que qdo eu estava ainda bem consciente da minha dor e sem conseguir lidar direito com ela, eu enfiei na minha cabeça que queria tomar anestesia pq eu não ia aguentar o trabalho de parto inteiro. E isso ficava martelando na minha cabeça o tempo inteiro. Apesar de conseguir passar bem por cada contração, eu ficava pedindo a anestesia. Sabe quando a gente cisma com uma coisa? Esqueci parto natural, circulo de fogo, esqueci tudo... foquei na dor...
Eu fiquei com a bola dentro do chuveiro. A bola tampava o ralo do box. E eu inundei o banheiro e o quarto um milhão de vezes. Cada hora que eu olhava lá dentro do quarto, tava cheio de enfermeiras com rodos e toalhas na mão... Esse movimento todo fazia com que eu continuasse querendo ter o controle, querendo saber o que estava acontecendo, e acho que isso pode ter me atrapalhado bastante durante o trabalho de parto. Eu não estava entregue por inteira.  As enfermeiras foram bem boazinhas, não reclamaram da bagunça que eu fiz, eu escutava elas falando que "parto normal é assim mesmo". Só teve uma q entrou no quarto qdo trocou o turno, acho q era umas 6 da manhã, que ficou me olhando na porta do banheiro e bem no meio de uma contração, teve a pachorra de me perguntar: "tá doendo muito?". Na mesma hora o Gabriel tirou ela dali.
Eu não queria sair do chuveiro de jeito nenhum. Mas aí a Dorothe me convenceu a sair um pouquinho. Qdo vinham as contrações, ela e o Gabriel apertavam meu quadril e a dor aliviava muito. Era como se quase não tivesse contração nenhuma. 
Eu me lembro muito bem dela falando pra mim, qdo eu reclamava q tinha mais contração chegando: "é menos uma contração", "uma contração de cada vez, agora não existe a anterior e nem a próxima, lide com esse agora". E o apoio dela foi fundamental pra que eu conseguisse realmente passar por uma contração de cada vez.
Quando o Gabriel falava comigo, eu fazia XIIUU pra ele, não queria ouvir a voz dele, nem q ele encostasse em mim. Uma vez ele tentou colocar a mão na minha barriga e levou um tapa... rsrs Mas eu gostava de ouvir a voz da Dorothe. As frases dela estavam me ajudando. E teve uma hora que eu me apoiei nos braços dela, pra me esticar durante as contrações. Acho que eu meio que transferi a "personagem". O apoio que eu não tive da minha mãe, que passou a gravidez toda me dizendo que tinha que tomar cuidado com parto normal, eu estava tendo ali com ela.
Depois, qdo fui na palestra da Naoli, ela falou sobre a questão de deixar as mulheres em paz, sobre o quanto é importante para o TP, sobre o marido que desviou o olhar e levou uma bronca da esposa. E fez todo o sentido pra mim. É isso mesmo. A mulher que vai parir tem que ser deixada em paz, no escuro, porque a luz nos faz doer os olhos, em silêncio e LIVRE, para ficar na posição em que seu corpo mandar. 
Eu não consigo imaginar essas pessoas que chegam nos hospitais em trabalho de parto e são obrigadas a ficar deitadas com sorinho na veia... gente... CRUELDADE, não tem outra palavra... crueldade restringir os movimentos de uma mulher numa hora dessas...
Durante o trabalho de parto eu assisti a filminhos na minha cabeça. Foi uma situação muito curiosa... Lembrei de fatos da minha infância que nem me lembrava que tinham acontecido, frases que ouvi, situações que me deixaram tristes... foi a hora de lavar a alma, colocar tudo pra fora, chorar por tudo que estava guardado dentro de mim... E foi uma delícia.
A Mari chegou no Vera Cruz umas 7 e meia pra me examinar. E eu continuava pedindo anestesia. Pedia pelo amor de Deus. Eu não conseguia perceber que eu estava lidando muito bem com as contrações. Eu só me atentava ao quanto elas doíam. Qdo ela me examinou, eu ainda tinha só 4cm de dilatação. Aí quase chorei... rsrsrs Falei pra ela q eu queria muito muito muito uma anestesia.
Eu acho que eu estava muito cansada, pois estava acordada desde as 5 da manhã do dia anterior e não tinha dormido bem. As dores foram pegando muito na minha lombar e eu estava com sono e mto cansada. Aí a Mari me perguntou se eu conseguia esperar um pouquinho pra tomar a analgesia, pq ela poderia atrapalhar a progressão do TP se eu tomasse naquele momento. E me pediu pra esperar uma hora e meia. E me prometeu que as 9h voltava pra me buscar.
A minha necessidade de controle era tanta, que eu perguntei de quanto em quanto tempo eu estava tendo contrações. Eu não lembro o que a Dorothe me respondeu, mas na hora eu fiz as contas de quantas contrações eu teria até as 9h, e fui contando  cada uma delas. Eu não conseguia me desligar. Só que que as contrações começaram a ficar cada vez menos espaçadas, e aí, qdo "nas minhas contas", já deveria ser perto de 9 horas, não tinha passado nem 40 minutos ainda.
O jeito foi esperar.
Umas 9 e pouco, a Mari chegou, já de touquinha e tudo, pra me levar pro centro cirurgico.
Tomei a analgesia e a Mari ligou um pouquinho da ocitocina. Depois ela me explicou que eu estava com contrações muito curtas e muito frequentes. Elas duravam em média uns 30 segundos apenas, e vinham muito rápido, a cada minuto e meio mais ou menos. Por isso a ocitocina foi necessária pra ajudar um pouco a dilatação, caso contrário a anestesia ia passar e eu ia ter q tomar de novo (pq eu tenho certeza que eu não ia aguentar começar a sentir tudo de novo). A dose maior de analgesia poderia prejudicar a progressão do trabalho de parto, e aí teríamos que usar ocitocina do mesmo jeito.
A Mari me disse pra descansar um pouco. Eu fiquei ali com o Gabriel do meu lado, dando umas cochiladas e acho que uns 40 minutos depois eu já estava com dilatação total.
Aí levantei, mas a Ana continuava alta. Dei umas reboladas na bola, o Gabriel ficou cantando dentro do centro cirurgico, todo mundo curtindo o momento e aí fui pra banqueta.
Eu conseguia sentir a barriga contraindo. A analgesia começou a passar. A dor que estava parada nas minhas costas, agora estava no bumbum. Era a Ana abrindo meus ossos, trilhando o seu caminho. (nota, pra quem diz que o quadril abre, ele abre, mas fecha viu gente? Qdo ela tinha 5 dias, eu fui na pediatra usando uma calça jeans que eu não usava desde antes de ficar grávida).
O expulsivo foi curtinho, em pouco tempo ela nasceu. Qdo a cabeça dela começou a sair, a Dorothe estava do nosso lado e chamou a Mari pra ela vir correndo, pq ela nem estava ali com a gente... rsrs
A Mari me disse pra colocar a mão, senti os cabelinhos dela ali... Era ela, prontinha pra chegar e abalar as estruturas! Ali eu me derreti toda, e foquei. Pensei "ela vai nascer agora", e fiz uma super força... não sei como não tive laceração..
Chegou a nossa pequena, com 3 circulares de cordão, 2 no pescoço e uma no corpinho... Trazendo a prova de muitas falsas indicações de cesárea: - gestação pós 40 semanas, - circular de cordão, - mãe acima do peso, - mãe sedentária, - bebê grande (estimativa de 3980g no ultimo ultrassom, e chegou com 3575g, provando que as máquinas erram)...
Eu me surpreendi com o neonatologista que nos atendeu no Vera. Ele deixou a Mari colocá-la no meu colo, Fiquei ali sentindo o cheirinho dela e vendo os olhinhos dela, já abertos, olhando pra mim. Ela não chorou quando nasceu. Nasceu sorrindo, direto pro aconchego do colo da mamãe. Ficou quietinha, observando e aprendendo a respirar. Chorou depois, qdo foi pro colo do médico. Nasceu linda, rosadinha, com apgar 10 e muito ativa.
Ele levou ela rapidinho pra pesar, medir etc. Foi o tempo de eu me levantar e deitar na maca, ela já veio pro meu colo de novo e ficou ali comigo o tempo todo. Acho que foram mais ou menos uns 40 minutos, enquanto a placenta saía e depois a Mari deu uns 2 pontinhos nos pequenos lábios. O períneo mesmo ficou inteiro :-). Aí enquanto eu descia pro quarto, ela foi pro berçário. Não teve colírio. Assinamos o termo para que ela não recebesse o colírio que previne contra conjutivite causada por gonorréia e clamídia. O gabriel ficou vendo tudo. Só colocaram a roupinha nela, ela ficou bem pouquinho tempo ali. Uns 10 a 15 minutos depois q eu estava no quarto, ela já chegou com o Gabriel acompanhando.
Depois de tanto tempo, fico me perguntando se o Misoprostol pode ter atrapalhado tudo isso. Se por um acaso as minhas contrações foram muito mais fortes do que deveriam ser. E acho que sim, a taquissistolia que tive e que foi a indicação da ocitocina pode sim ter sido provocada pela indução. E fico me perguntando se eu estivesse em casa, como teria sido.
Um dos medos que eu tinha, eu já encontrei: eu tinha medo de ir em trabalho de parto ativo pro hospital, pegar a Anhanguera com muitas dores e acabar "sofrendo" muito, pois todos os relatos que eu lia diziam que a parte mais dificil era a de entrar no carro e ir pro hospital. E é esse o ponto de partida que me começa a deixar com uma vontadezinha de PD no próximo. Se realmente o Misoprostol aumentou a intensidade das dores, fico aqui pensando que com uma doula eu acho que consigo fácil aguentar um trabalho de parto em casa. Outra coisa que me faz pensar muito em PD é o fato de ter que ficar no hospital separada de uma filha pra receber outro filho. Não me parece fazer muito sentido.... Acho que a família tb é dela e ela tem o direito de poder participar de tudo isso bem de pertinho. Tem o direito de ver o irmão nascer, de curtir junto com a gente os primeiros momentos com o novo membro da família.
O segundinho não é pra agora. Devemos encomendar só daqui uns 3 anos, por isso, acho que vou ter bastante tempo pra tentar elaborar meus medos.
Nessa gestação eu achava q tava tudo bem, mas depois eu vi que se eu tivesse ido mais a fundo, se tivesse feito umas 3 ou 4 consultas com a Lara antes, talvez o rumo do parto tivesse sido outro e eu não precisasse da indução.
Mas são só "e ses...". Acho que cada mulher tem o parto que merece e o meu foi importante para que me trouxesse muita reflexão. Me mostrasse que é muito difícil se entregar e tentar deixar de controlar tudo e que esses são os principais pontos que eu tenho que trabalhar para o próximo....
Como diz a Ana Cris, "a gente pari como a gente vive a vida". 

sábado, 21 de abril de 2012

171 Obstétrico - Por Ana Cris Duarte


As 12 maneiras mais frequentes de enganar a mulherada.

Cesárea 171-I: Cordão enrolado
A verdade: quase um terço dos bebês nasce com circular de cordão. Mas a gelatina que recheia o cordão ajuda a impedir que os vasos se fechem. Além disso o bebê não respira dentro do útero!

... Cesárea 171-II: Pressão Alta
A verdade: A hipertensão é um problema grave, mas nos casos em que ela foge ao controle pode ser necessário induzir o parto normal.

Cesárea 171-III: Bacia Estreita
A verdade: Impossível saber o tamanho da bacia por dentro e os ossos da cabeça do bebê são soltos e se sobrepõem para passar pela bacia materna

Cesárea 171-IV: Bebê Grande
A verdade: Impossível saber o peso do bebê pelo ultrasom e os ossos da cabeça do bebê são soltos e se sobrepõem para passar pela bacia materna

Cesárea 171-V: Passou do Tempo
A verdade: A gravidez humana normal vai até 42 semanas. Passado o prazo considerado seguro, pode ser necessário induzir o parto normal.

Cesárea 171-VI: Parto Prematuro
A verdade: Bebês prematuros nascem em melhores condições se for por parto normal

Cesárea 171-VII: Diabetes Gestacional
A verdade: É uma condição em geral controlada com dieta, exercícios e medicamentos, e não tem qualquer relação com a via de parto. Nenhuma!

Cesárea 171-VIII: Bebê fez cocô (mecônio)
A verdade: O mecônio não é um problema, a não ser nos casos em que os batimentos cardíacos do bebê estão insatisfatórios, evidenciando sofrimento fetal. Mesmo assim a indicação é o sofrimento fetal, não o mecônio.

Cesárea 171-IX: A bolsa rompeu e não teve contração
A verdade: É só aguardar 24 horas e se não entrar em trabalho de parto, induzir. A indução pode levar até 48 horas para "engatar". Antibióticos podem prevenir infecção. Fácil convencer o GO de esperar 72 horas, não é mesmo?

Cesárea 171-X: Não teve dilatação
A verdade: Todas as mulheres dilatam se aguardar a fase ativa do trabalho de parto.

Cesárea 171-XI: Não entrou em trabalho de parto
A verdade: Se não for colocada numa mesa cirúrgica, toda mulher entra em trabalho de parto.

Cesárea 171-XII: Na consulta de pré natal o colo do útero está fechado
A verdade: O colo do útero em geral fica fechado. O que faz ele abrir são as contrações de trabalho de parto.

Cesárea 171-I: Pouco líquido
A verdade: A diminuição do líquido amniótico é normal e esperada no final da gestação. No caso de diminuição acentuada, pode ser necessário induizir o parto normal, o que pode levar até 48 horas. Fácil convencer o GO de esperar 72 horas, não é mesmo?



Autora: Ana Cris Duarte, obstetriz

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Sobre a episiotomia...

A episiotomia é um corte feito no períneo da mulher.
Infelizmente, muitos médicos fazem episiotomia de rotina sem perceberem que estão mutilando o corpo da mulher.

A episiotomia é feita para "facilitar" o nascimento do bebê no parto normal, entretanto, ela acaba prejudicando muito a mulher. Quando ela é feita, o médico corta a mucosa e o músculo perineal, tornando assim a cicatrização muito mais demorada e difícil. Quando a episiotomia não é feita, ainda há o risco de ocorrer uma laceração no períneo da mulher. Entretanto, a laceração ocorre na musoca, que tem cicatrização bem fácil, afinal, essa parte do corpo está preparada para se alongar durante os nascimentos.
Quando o médico faz episiotomia, o bebê costuma nascer mais rápido (e o médico vai mais cedo pra casa). Entretanto, nascendo mais rápido, há o risco do bebê nascer em um impulso só, e ainda acabar rasgando mais a episiotomia que o médico fez, e aí a mulher toma um montão de pontos desnecessários no períneo.
Durante o período expulsivo, o bebê começa a coroar e fica em um movimento de "vai e vem" durante vários puxos. Esses movimentos são os responsáveis por irem alongando o períneo aos poucos, evitando lacerações gigantes.
Os obstetras humanizados não trabalham com episiotomia de rotina e alguns deles, inclusive, estão há muitos anos sem cortar o períneo de nenhuma mulher.
Quando há necessidade de se acelerar o nascimento de um bebê que está coroando (por sofrimento fetal agudo, por exemplo), o vácuo extrator pode ser usado para resolver o problema sem que a mulher seja cortada.

Eu não tive episiotomia e foi ótimo, pois assim que a Ana Luísa nasceu, eu me levantei e saí andando. Tive 2 mini lacerações nos pequenos lábios, tomei 1 pontinho em cada uma, que caíram sozinhos em pouquíssimos dias.
Se você vai ter um parto normal, converse com o seu médico, pergunte o que ele acha da episiotomia e se ele falar que "não abre mão", fique atenta! A episiotomia é uma mutilação desnecessária no corpo da mulher!

quarta-feira, 18 de abril de 2012

To sumida

A pequena está com conjutivite, acordando mais a noite, por isso, aproveito o tempo livre pra descansar tb! Assim q derv, eu volto! ;-)

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Uma pausa!

Esse final de semana estou enrolada com os preparativos do batizado da pequena...
Não vamos ter nada muito grande, só reuniremos a família após a missa, mas mesmo assim, dá um trabalhão!
Na semana que vem eu volto falando sobre a episiotomia!

PS: Desde que criei o blog, já tive quase 400 acesso e só 8 comentários!!! Minha gente, fico curiosa pra saber quem são vocês tb!! Deixem um "oi" pra mim vai? Agora eu juro, q sempre que entrar em um blog, vou comentar, pq agora eu sei a curiosidade que dá na gente... rsrsrs

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Sobre a indução do parto...

Como eu já disse em posts anteriores, nós tivemos um parto induzido com 41 semanas e 5 dias de gestação.

Por que optei por induzir?
Por vários motivos. Todos eles foram amplamente conversados com o meu marido e com a minha obstetra.
O principal deles foi que quando eu completasse 42 semanas, a minha obstetra sairia de férias. Eu já sabia disso há um tempo e não queria, de jeito nenhum, correr o risco de ter que ter um parto com plantonista e acabar caindo em um parto cheio de intervenções ou em uma cirurgia desnecessária. Nós temos que confiar na equipe, e eu só confiava nela. Sabia que ela não mancharia o índice LINDO dela de 15% de cesáreas a toa.

O que é a indução do parto?
É o início artificial do trabalho de parto para provocar o nascimento do bebê.
Como qualquer outra intervenção, pode apresentar efeitos indesejáveis, só devendo ser usada quando os benefícios para mãe e feto superarem os riscos de espera pelo início espontâneo do trabalho de parto.



Como ela pode ser feita?
Antes de partir para a indução no hospital, há alguns recursos que podem ser usados.

Acupuntura
De acordo com a Biblioteca Cochrane, ainda são necessários mais estudos a respeito da acupuntura e a indução do trabalho de parto, entretanto, muitas doulas e gestantes relatam casos de sucesso com a acupuntura

Homeopatia
O Caulophyllum thalictrodes estaria indicado para regularizar as contrações uterinas no trabalho de parto ou quando ainda estão fracas e irregulares.
Autores concluíram que este remédio apresenta uma ação na rpevenção de contrações uterinas fracas, no entanto, as evidências atuais são insuficientes para recomendar o uso da homeopatia na indução do parto (Moraes Filho et al. 2005)
Descolamento das Membranas
O Obstetra faz, manualmente, o descolamento da bolsa das águas, provocando a liberação de prostaglandinas, hormônios que incentivam o trabalho de parto (atenção: descolamento na bolsa não é o mesmo que ruptura da bolsa).

No hospital:
Catéter com Balão (Sonda de Foley)
Promove o amadurecimento do colo uterino através da liberação de protaglandinas. O seu uso, geralmente, fica associado com a ocitocina.
A associação da sonda com a ocitocina diminui o risco de cesárea em relação à indução feita somente com ocitocina (Moraes Filho et al. 2005).
Ocitocina
A ocitocina é usada de forma intravenosa e promove o aumento e a frequência das contrações uterinas.
Quando o colo do útero é imaturo, a indução do parto apenas com a ocitocina está associada a percentual elevado de partos prolongados, de doses elevadas com o rosco de intoxicação hídrica, de falhas e consequentemente, aumento da incidência de cesáreas.
Alguns autores chegam a desaconselhar o uso isolado da ocitocina para induzir o parto quando o colo está imaturo (Moraes Filho et al. 2005).

Misoprostol
O comprimido de misoprostol inserido na vagina relaxa o músculo liso da cérvice e facilita a dilatação, ao mesmo tempo em que permite o acréscimo do cálcio intracelular, promovendo contração uterina.
Se comparado à ocitocina, o misoprostol por via vaginal está associado a um maior sucesso da indução do trabalho de parto, embora também a um aumento da hipercontratilidade uterina, mas sem repercussões sobre a frequência cardíaca fetal.
Nota: este foi o meu caso. Colocamos um comprimido de misoprostol e depois de 6 horas, outro foi colocado. Mais ou menos uma hora depois, a minha bolsa rompeu e as contrações vieram já bem ritmadas, a cada 4 ou 5 minutos. Rapidamente, cheguei às contrações de 3 em 3 minutos e depois de mais ou menos 7 horas de trabalho de parto, estava com contrações de um em um minuto, com duração de 30 segundos cada uma. Fiquei com contrações curtas e frequentes, o que colabora para que a dilatação progrida de forma mais lenta. Como eu optei pela analgesia, para evitar que tivéssemos que ficar aumentando a dose da analgesia conforme o efeito fosse passando ainda durante a evolução do trabalho de parto, neste momento, foi usada a ocitocina e em mais ou menos 45 minutos, fomos dos 5cm para a dilatação total.

Em um estudo com 3533 mulheres com passado de uma cesárea e com parto induzido, houve ocorrência de ruptura uterina em 0,8% dos casos em que se usou ocitocina e 1,1% dos casos com misoprostol. A indução do parto com ocitocina ou misoprostol está associada com aumento de ruptura uterina quando comparada com o trabalho de parto espontâneo (Moraes Filho et al. 2005).


Existem outros métodos, porém, menos utilizados, que são citados nas refeências abaixo.

Principais indicações de indução ao trabalho de parto segundo as evidências atuais:
- Gestação prolongada
- Ruptura prematura das membranas a termo
- Diabetes em uso de insulina
- Pré-eclampsia

Contraindicações absolutas para a indução do trabalho de parto
- Placenta prévia centro-total
- Apresentação córmica
- Prolapso de cordão umbilical
- Cesárea clássica anterior E outras cicatrizes uterinas prévias
- Anormalidade na pelve materna
- Herpes Genital ativo
- Tumores prévios (tumor de colo ou vagina e mioma uterino em segmento inferior)

Aqui você lê soubre outras indicações e contraindicações.




Referências:
MORAES FILHO, Olímpio Barbosa de; CECATTI, José Guilherme; FEITOSA, Francisco Edson de Lucena. Métodos para indução do parto. Rev. Bras. Ginecol. Obstet., Rio de Janeiro, v. 27, n. 8, Aug. 2005 . Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-72032005000800010&lng=en&nrm=iso>.  Accesso em 12 Apr. 2012.    

SOUZA, Alex Sandro Holland; COSTA, Aurélio Antonio Ribeiro; COUTINHO, Isabela; NORONHA NETO, Carlos; AMORIM, Melania Maria Ramos. Femina, v.38, n. 4, Abr. 2010. Disponível em http://files.bvs.br/upload/S/0100-7254/2010/v38n4/a003.pdf. Acesso em 11 de abril de 2012.